1. |
Pela Décima Vez
02:35
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Jurei não mais amar pela décima vez
Jurei não perdoar o que ela me fez
O costume é a força que fala mais forte do que a natureza
E nos faz dar provas de fraqueza
Joguei meu cigarro no chão e pisei
Sem mais nenhum aquele mesmo apanhei e fumei
Através da fumaça neguei minha raça chorando, a repetir:
Ela é o veneno que eu escolhi pra morrer sem sentir
Senti que o meu coração quis parar
Quando voltei e escutei a vizinhança falar
Que ela só de pirraça seguiu com um praça ficando lá no xadrez
Pela décima vez ela está inocente nem sabe o que fez
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2. |
Cansei de Pedir
02:46
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Já cansei de pedir
Pra você me deixar
Dizendo que não posso mais
Continuar amando
Sem querer amar
Meu Deus, estou pecando
Amando sem querer...
Me sacrificando sem você merecer!
Amar sem ter amor é um suplício
Você não compreende a minha dor
Nem pode avaliar
O sacrifício que eu fiz
Para você ser feliz!
Com a ingratidão eu não contava
Você não compreende a minha dor
Você, se compreendesse
Me deixava sem chorar
Para não me ver penar
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3. |
Coração
03:10
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Coração
Grande órgão propulsor
Distribuidor do sangue venoso em arterial
Coração
Não é sentimental
Mas entretanto dizem
Que é o cofre da paixão
Coração
Não está do lado esquerdo
Nem tampouco do direito
Fica no centro do peito - eis a verdade!
Tu é pro bem-estar do nosso sangue
O que as rosas representam
para um simples beija-flor
Coração
De sambista brasileiro
Quando bate no peito
Faz a batida do pandeiro
Eu afirmo
Sem nenhuma pretensão
Que a paixão faz dor no crânio
Mas não ataca o coração
Conheci
Um sujeito convencido
Com mania de grandeza
E instinto de nobreza
Que, por saber
Que o sangue azul é nobre
Gastou todo o seu cobre
Sem pensar no seu futuro
Não achando
Quem lhe arrancasse as veias
Onde corre o sangue impuro
Viajou a procurar
De norte a sul
Alguém que conseguisse
Encher-lhe as veias
Com azul de metileno
Pra ficar com sangue azul
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4. |
Meu Barracão
03:06
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Faz hoje quase um ano
Que eu não vou visitar
Meu barracão lá da Penha
Que me faz sofrer
E até mesmo chorar
Por lembrar a alegria
Com que eu sentia
Um forte laço de amor
Que nos unia
Não há quem tenha
Mais saudades lá da Penha
Do que eu, juro que não
Não há quem possa
Me fazer perder a bossa
Só saudade do barracão
Mas veio lá da Penha
Hoje uma pessoa
Que trouxe uma notícia
Do meu barracão
Que não foi nada boa
Já cansado de esperar
Saiu do lugar
Eu desconfio que ele
Foi me procurar
Não há quem tenha
Mais saudades lá da Penha
Do que eu, juro que não
Não há quem possa
Me fazer perder a bossa
Só saudade do barracão
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5. |
Quando o Samba Acabou
03:54
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Lá no morro da Mangueira
Bem em frente a ribanceira
Uma cruz a gente vê
Quem fincou foi a Rosinha
Que é cabrocha de alta linha
E nos olhos tem seu não sei que
Numa linda madrugada
Ao voltar da batucada
Pra dois malandros olhou a sorrir
Ela foi se embora
Os dois ficaram
E depois se encontraram
Pra conversar e discutir
Lá no morro
Uma luz somente havia
Era lua que tudo assistia
Mas quando acabava o samba se escondia
Na segunda batucada
Disputando a namorada
Foram os dois improvisar
E como em toda façanha
Sempre um perde e outro ganha
Um dos dois parou de versejar
E perdendo a doce amada
Foi fumar na encruzilhada
Passando horas em meditação
Quando o sol raiou
Foi encontrado
Na ribanceira estirado
Com um punhal no coração
Lá no morro uma luz somente havia
Era Sol quando o samba acabou
De noite não houve lua
ninguém cantou
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6. |
Com que Roupa?
03:01
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Agora eu vou mudar minha conduta
Eu vou à luta, pois eu quero me aprumar
Vou tratar você com força bruta
Pra poder me reabilitar
Pois essa vida não está sopa, e eu me pergunto com que roupa?
Com que roupa eu vou?
Pro samba que você me convidou.
Agora eu não ando mais fardeiro
Pois o dinheiro não é fácil de ganhar
Mesmo eu sendo um cabra trapaceiro
Não consigo ter, nem pra gastar
Eu já corri de vento em popa
Com que roupa eu vou?
Pro samba que você me convidou. (Com que roupa?)
Eu hoje estou pulando feito um sapo
Pra ver se escapo dessa praga de urubu
Já estou coberto de farrapos,
Eu vou acabar ficando nu
Meu paletó virou estopa, e eu nem sei mas com que roupa?
Com que roupa eu vou?
Pro samba que você me convidou.
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7. |
Fita Amarela
03:02
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Quando eu morrer, não quero choro nem vela
Quero uma fita amarela gravada com o nome dela
Se existe alma, se há outra encarnação
Eu queria que a mulata sapateasse no meu caixão
Não quero flores nem coroa com espinho
Só quero choro de flauta, violão e cavaquinho
Estou contente, consolado por saber
Que as morenas tão formosas a terra um dia vai comer.
Não tenho herdeiros, não possuo um só vintém
Eu vivi devendo a todos mas não paguei a ninguém
Meus inimigos que hoje falam mal de mim
Vão dizer que nunca viram uma pessoa tão boa assim.
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8. |
Três Apitos
03:22
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Quando o apito da fábrica de tecidos
Vem ferir os meus ouvidos
Eu me lembro de você
Mas você anda
Sem dúvida bem zangada
Ou está interessada
Em fingir que não me vê
Você que atende ao apito de uma chaminé de barro
Porque não atende ao grito
Tão aflito
Da buzina do meu carro
Você no inverno
Sem meias vai pro trabalho
Não faz fé no agasalho
Nem no frio você crê
Mas você é mesmo artigo que não se imita
Quando a fábrica apita
Faz reclame de você
Nos meus olhos você lê
Que eu sofro cruelmente
Com ciúmes do gerente
Impertinente
Que dá ordens a você
Sou do sereno poeta muito soturno
Vou virar guarda-noturno
E você sabe porque
Mas você não sabe
Que enquanto você faz pano
Faço junto ao piano
Estes versos pra você
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9. |
Silêncio de Um Minuto
04:52
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Não te vejo e não te escuto
O meu samba está de luto
Eu peço o silêncio de um minuto
Homenagem a história
De um amor cheio de glória
Que me pesa na memória
Nosso amor cheio de glória
De prazer e de emoção
Foi vencido e a vitória
Cabe à tua ingratidão
Tu cavaste a minha dor
Com a pá do fingimento
E cobriste o nosso amor
Com a cal do esquecimento
Teu silêncio absoluto
Obrigou-me a confessar
Que o meu samba está de luto
Meu violão vai soluçar
Luto preto é vaidade
Neste funeral de amor
O meu luto é saudade
E saudade não tem cor
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10. |
Seja Breve
02:04
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Seja breve, seja breve
Não percebi porque você se atreve
A prolongar sua conversa mole
Seja breve
Não amole
Senão acabo perdendo o controle
E vou cobrar o tempo que você me deve
Eu me ajoelho e fico de mãos postas
Só para ver você virar as costas
E quando vejo que você vai longe
Eu comemoro sua ausência com champanhe
Deus lhe acompanhe
A sua vida nem você escreve
E além disso você tem mão leve
Eu só desejo ver você nas grades
Pra te dizer baixinho sem fazer alarde
Deus lhe guarde
Vou conservar a porta bem fechada
Com um cartaz: "é proibida a entrada"
E você passa a ser pessoa estranha
Meu bolso fica livre dos ataques seus
Graças a Deus.
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11. |
Último Desejo
03:26
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Nosso amor que eu não esqueço
E que teve o seu começo
Numa festa de São João
Morre hoje sem foguete
Sem retrato e sem bilhete
Sem luar, sem violão
Perto de você me calo
Tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar
Nunca mais quero o seu beijo
Mas meu último desejo
Você não pode negar
Se alguma pessoa amiga
Pedir que você lhe diga
Se você me quer ou não
Diga que você me adora
Que você lamenta e chora
A nossa separação
Às pessoas que eu detesto
Diga sempre que eu não presto
Que meu lar é o botequim
Que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida
Que você pagou pra mim
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12. |
João Ninguém
02:57
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João Ninguém
Que não é velho nem moço
Come bastante no almoço
Pra se esquecer do jantar...
Num vão de escada
Fez a sua moradia
Sem pensar na gritaria
Que vem do primeiro andar
João Ninguém
Não trabalha e é dos tais
Mas joga sem ter vintém
E fuma Liberty Ovais
Esse João nunca se expôs ao perigo
Nunca teve um inimigo
Nunca teve opinião
João Ninguém
Não tem ideal na vida
Além de casa e comida
Tem seus amores também
E muita gente que ostenta luxo e vaidade
Não goza a felicidade
Que goza João Ninguém!
João Ninguém não trabalha um só minuto
E vive sem ter vintém
E anda a fumar charuto
Esse João nunca se expôs ao perigo
Nunca teve um inimigo
Nunca teve opinião
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Paulo Kalu CE, Brazil
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